Romance moderno
Herdeiro da epopeia, o romance moderno é tipicamente um
gênero narrativo,
assim como a novela e o conto.
A diferença entre romance e novela não é clara, mas costuma-se definir que no
romance há um paralelo de várias ações, enquanto na novela há uma concatenação
de ações individualizadas. No romance, uma personagem pode surgir em meio a
história e desaparecer depois de cumprir sua função. Outra distinção importante
é que no romance o final é um enfraquecimento de uma combinação e ligação de
elementos heterogêneos, não o clímax.
Há de notar que o
romance tornou-se gênero preferencial a partir do Romantismo, por isso ficando o termo romance associado
a este. Entretanto o Realismo teria no
romance sua base fundamental, pois apenas este permitia a minúcia descritiva,
que exporia os problemas sociais.
Dom Quixote de
La Mancha, escrito no início do século XVII, é geralmente considerado como
o precursor do romance moderno.[1] Na tentativa de parodiar o romance de
cavalaria, Miguel de Cervantes não
só escreveu um dos grandes clássicos da literatura, como ajudou a firmar o gênero que
viria substituir a epopeia, a qual, já agonizante, desapareceria no século XVIII, com o advento da revolução
industrial. O romance é, segundo Hegel,
a epopeia burguesa moderna.[2]
O romance chega à modernidade com Balzac e
à plenitude com Proust, Joyce, Faulkner. A partir destes últimos a ordem cronológica é desfeita: passado,
presente e futuro são fundidos.
A partir de meados do século XX, intensifica-se a discussão
em torno de uma provável crise do romance, sua possível morte. Essa morte teria
ocorrido por volta dos anos 50: Na França Alain Robbe-Grillet, Claude Simon, Robert
Pinget, Nathalie Sarraute, Marguerite Duras, Michel Butor, entre outros, rejeitam o
conceito de romance cuja função é contar uma história e delinear personagens
conforme as convenções realistas do século XIX; transgridem também outros
valores do romance tradicional: tempo, espaço, ação, repúdio à noção de
verossimilhança etc. Sartrediz que ao
destruírem o romance, esses escritores, na verdade, estão renovando-o,
principalmente com a influência do cinema. É o noveau roman sacudindo as
bases tradicionais da literatura.
Em 1936 os Estados
Unidos viviam a época clássica do cinema falado. Antes de ser influenciado pelo
cinema, o romance influenciou-o; ao ponto de, nas décadas de 30 e 40, a
indústria cinematográfica ter privilegiado os filmes narrativos e grandes
romancistas terem sido contratados pelos estúdios para escreverem roteiros.
Mesmo assim em 1936 Scott Fitzgerald escrevia:
"vi que o romance, que na minha maturidade era o meio mais forte e
flexível de transmitir pensamento e emoção de um ser humano para outro, estava
ficando subordinado a uma arte mecânica... só tinha condições de refletir os
pensamentos mais batidos, as emoções mais óbvias. Era uma arte em que as
palavras eram subordinadas às imagens..." Fitzgerald foi o primeiro
escritor a perceber que o romance estava sendo suplantado pelo cinema, mas
continuou acreditando que, como arte, o romance sempre seria superior. Antes
disso, na década de 20, com a publicação do Ulisses, passou-se a afirmar que o
livro de Joyce era o ápice do romance, que depois dele o romancista deveria
ater-se ao mínimo, outros diziam que Ulisses era a paródia final do romance,
como quem assina embaixo da frase de Kierkegaard: Toda fase histórica termina
com a paródia de si mesma.
No Brasil os anos 50
foram férteis: 1956, por exemplo, é considerado um dos grandes marcos
literários do país; foram publicados naquele ano O encontro marcado, de Fernando Sabino; Doramundo, de Geraldo Ferraz; Vila dos Confins, de Mário Palmério e
Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Ainda desta década é
Gabriela, Cravo e Canela (58), de Jorge Amado. A trilogia O tempo e o vento,
de Érico Veríssimo,
teve seu primeiro volume, O continente, publicado em 49 e O retrato em 51.
Crise do Romance
Na verdade é que já em
1880 falava-se em crise do romance. Naquele ano foi feita na França uma enquete
sobre o assunto e Jules Renard disse
que o romance havia morrido. E em uma época de Zola, André Gide, Valéry; mais adiante surgiriam Proust,
Joyce, Kafka, Robert Musil, Machado de Assis. Numa entrevista, Gabriel
Garcia-Márquez reitera sua crença no gênero: "se você diz
que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto".
Justamente quando se
discutia se os recursos do romance estariam realmente esgotados, se seus dias
estavam mesmo contados, surge o que ficou conhecido como o boom da
literatura latino-americana: Julio Cortázar, Vargas Llosa,
Gabriel Garcia-Márquez, Carlos Fuentes, Cabrera
Infante, Miguel Ángel
Asturias, Alejo Carpentier etc. Era o
descobrimento do realismo mágico.
O romance sofre
concorrência do desenvolvimento do jornalismo, o cinema, o rádio, a TV;
e mais recentemente os computadores e a Internet. O que se tem visto, no
entanto, são os rivais se transformarem em aliados do romance: a imprensa
escrita veio influenciar e divulgar a literatura, com o cinema a mesma coisa
acontece. A Internet também vem se transformando numa divulgadora da
literatura.
Em Repertório, Michel
Butor diz que o romance é o laboratório da narrativa. E não há espaço mais
propício para se fazer novas experiências do que um laboratório. Uma literatura
que pretende representar o mundo só o fará se acompanhar as mudanças desse
mundo. É preciso, então, mudar a própria noção de romance.
Esse laboratório da
narrativa vem ao encontro das relações atuais do romance com as transformações
cada vez mais dinâmicas da sociedade contemporânea. O que morre no romance é a
antiga estrutura que é necessariamente marcada pela coerência interna da qual
se espera extrair o sentido da narrativa. A crença em alcançar significados
coerentes é que está em crise. A sociedade atual assiste ao fim das ideologias
e à falência tanto da sociedade burguesa quanto da socialista. O romance clássico
representa a falácia de um estilo de pensamento ultrapassado pela racionalidade
histórica pós moderna.
Metamorfose do
Romance
Que a palavra romance se
desgastou ao ponto de se criar preconceitos em torno dela, isso não se discute.
Há pessoas, por exemplo, que acreditam que o fato de não lerem romances é um
sintoma de intelectualidade. Na maioria das vezes, entretanto, quando se diz eu
não leio romance está-se querendo dizer eu não leio prosa de ficção. Assim o
preconceito se espalha para a literatura em geral.
Outra coisa indiscutível
é o fato de o romance não ocupar mais o mesmo espaço que ocupou até o início
deste século. Michel Butor diz que é preciso compreender que toda invenção
literária, hoje em dia, produz-se no interior de um ambiente já saturado de
literatura. Para Henry James o
romancista é alguém para quem nada está perdido. Para Mishima a literatura é uma flor
imperecível. Para Barthes a
única verdadeira crise do romance acontece quando o escritor repete o que já
foi dito ou quando deixa de escrever.
Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Romance
Gostei muito dessis romance
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