sábado, 28 de setembro de 2013

ATIVIDADE DE LEITURA - Estudo do Texto

Compreensão, Interpretação e Leitura de texto

Leia o texto.
Mãe é contradição

Mãe sofre, essa é a verdade. Secretária de diretoria de uma grande empresa, ela vivia suspirando:
— De que adianta ser mãe, se não tenho tempo para ficar com meus filhos?
Penou para conseguir férias ao mesmo tempo que as crianças. Refugiou-se em um hotel-fazenda, O marido só comparecia nos fins de semana. Ela passou quinze dias em êxtase, vendo os três pimpolhos, de pendores artísticos, atléticos e científicos, torrarem a energia no gramado ou aprendendo a andar a cavalo. Só um momento de choque: quando Joãozinho começou a espirrar. Tinha alergia a ar puro.
— Que mundo é esse em que vivemos? - chocou-se.
Voltou para a cidade mais gorda (o bufê self-service do hotel era irresistível). Beijou o marido longamente:
             — Finalmente, vamos ter vida de família!
Sentou-se no sofá, tirou os sapatos, aninhou-se. As três gracinhas não tinham, porém, nenhum talento para se comportar como aves num poleiro. Em minutos, ela descobriu, horrorizada. que a energia gasta nos gramados seria agora exaurida no carpete. A menorzinha entrou na sala dançando. Estudava balé, a artista, O marido aplaudiu, enquanto a pequena graça apresentava pliés e jetés em frente da televisão. Ela percebeu que ia perder o melhor capítulo da novela, mas conformou-se. Qual a mãe que não se curva perante o talento da filha?
              — Que linda essa roupinha de cigana! Onde você arrumou?
              — Minhas gravatas de seda! — gritou o marido, executivo de alto nível.
Realmente: recortadas, as gravatas faziam um belo efeito. Mal tiveram tempo de se refazer da surpresa: o cientista apareceu com um litro cheio.
 — O perfume que eu inventei!
Uma delícia. Nem poderia deixar de ser, O aspirante a químico tinha misturado todas as fragrâncias francesas que ela, a duras penas, comprara no shopping. Nem teve tempo de gritar. Ouviu-se um barulho no banheiro, correram todos: a do meio tinha se cortado ao tentar fazer a barba. Sim, a barba! O pai quis explicar, durante o curativo:
 — Menina não tem barba!
              — Mas eu quero ter!
              — Ai, meu Deus! - gemeu a mãe.
Os pais foram se deitar exaustos, as maravilhas reclamando que era cedo. No dia seguinte o marido começou a chegar mais tarde. Dava um jeito de ficar trabalhando até as crianças estarem cansadas. Ela resistiu, apavorada.
 —  E quando eu voltar a trabalhar?
Retomou esgotada. O chefe, um francês irritadiço, dava pito ao vê-la distraída, preocupada. Passava o dia em linha direta com a empregada.
 — O Joãozinho fez um doce de banana, pimenta. ketchup e chocolate, e diz que vai comer. E se ele morre?
            — A menorzinha só quer salsicha com Coca-Cola, nada de arroz e feijão!
               — A do meio está tomando banho faz duas horas e não quer sair!
Voltava para encontrar uma dançando no seu colchão, outra brincando no elevador do prédio. Quase se ajoelhou quando a empregada ameaçou ir embora porque o garoto quis criar uma aranha num aquário. O chefe reclamou que ela não saía do telefone. O marido, que o apartamento tinha virado uma bagunça. Lamentava-se.
              — Que férias demoradas!
Cada vez que ouvia a expressão “volta às aulas”, sorria de satisfação. Com alívio, acertou a velha rotina: acorda cedíssimo, faz o café, se maquia e se penteia. Leva a menorzinha de carro para a aula de balé, enquanto os outros vão no ônibus escolar. Foge no almoço para deixar os maiores no curso de inglês. Uma amiga com quem faz revezamento os recolhe. Volta à noitinha e prepara o jantar. Em casa, todos são unânimes, sua comida dá de dez na da empregada. Passa as camisas do marido, pois a doméstica “nunca acerta o colarinho”, e ele, afinal, é um executivo de futuro. Quando vê os olhinhos dos pimpolhos apertados de sono. Sente ondas de felicidade.
— Finalmente, posso descansar!
Mentira. Não tem coragem de falar, mas pensa:
— Eu, trabalhando o dia todo! As crianças na escola! Quando é que vamos ter uma vida em família?
Já sonha com o fim do ano:
— Ah, que saudades das férias!
Ser mãe é uma eterna contradição.
Walcyr Carrasco

01. [D1] De acordo com o texto, a mãe passa o dia todo no trabalho, o marido só aparecia nos fins de semana e as crianças na escola. Ela pensava em ter pelo menos um momento  
(A) com o marido.                                                   (C) em família.
(B) com os filhos.                                                    (D) de descanso. 

02. [D2] No trecho “Ela passou quinze dias em estado de alegria, vendo os três pimpolhos, de pendores artísticos, atléticos e científicos, torrarem a energia no gramado ou aprendendo a andar a cavalo.” A expressão “ESTADO DE ALEGRIA” pode ser substituída por
(A) êxtase.                                                              (C) encolerizar.
(B) arrebatar.                                                          (D) absorver.

03. [D10] O que gerou a situação conflituosa da história foi
      (A) a mãe não ter tempo para ficar com os filhos.
      (B) a mãe passar o dia todo fora da casa.
      (C) o marido só aparecer nos fins de semana.
      (D) os filhos passarem o tempo todo na escola. 

04. [D13] No trecho “Ai, meu Deus!” Essa fala é de qual personagem?
(A) do narrador.                                                     (C) da mãe.
(B) do pai.                                                              (D) da empregada.

05. [D6] O assunto do texto é
(A) mãe é insubstituível.                                        (C) vida em família.
(B) a saudade dos filhos.                                      (D) ausência dos pais.

06. [D3] No trecho “Cada vez que ouvia a expressão “volta às aulas”, sorria de satisfação”, o uso da expressão em destaque revela
(A) a rotina.                                                              (C) a alegria.
(B) o alívio.                                                               (D) o enfado.

07. [D4] A expressão “Vê os olhinhos dos pimpolhos apertados de sono”, essa expressão significa
(A) descanso.                                                        (C) comodidade.
(B) felicidade.                                                        (D) afeto.

08.  [D16] O trecho que há uma passagem irônica é 
(A) Penou para conseguir férias ao mesmo tempo que as crianças.
(B) As três gracinhas não tinham, porém, nenhum talento para se comportar como aves num poleiro.
(C) Joãozinho começou a espirrar.
(D) A menina queria ter barba.

09. [D11] A mãe resolveu tirar férias com os filhos porque
(A) a distância entre mãe e filhos parecia se resolver desta forma.
(B) era a forma de se estar mais em família.
(C) queria compensar sua ausência de mãe.
(D) queria nesse momento está mais perto dos filhos.

10. [D12] A finalidade desse texto é
(A) mostrar a falta que os pais fazem no convívio e educação dos filhos.
(B) mostrar que a falta dos pais não comprometem na educação dos filhos.
(C) mostrar que os filhos hoje crescem longe dos pais.
(D) mostrar que os filhos vivem mais com a empregada do que com os pais.

11. [D7] A tese defendida no texto é
(A) que a distância dos pais pode comprometer na educação dos filhos.
(B) passar as férias juntos como os filhos é uma forma de resolver esse problema.
(C) viver mais em família é uma forma de acompanhar o crescimento dos filhos.
(D) consolidar trabalho e família, para viver mais perto dos filhos.

12. [D8] Qual a tese argumentada no texto que sustenta a decisão tomada pela mãe em tirar férias com os filhos?
(A) a mãe junto com os filhos sente-se feliz, descansa com eles e vê dispender suas energias.
(B) para acompanhar o momento de lazer e as travessuras dos filhos.
(C) para se sentir mãe e vê os filhos dispenderem suas energias.
(D) para matar a saudade do convívio com os filhos e a vida em família.

13. Para você, o que é ter uma “Vida de família”? Hoje, a maioria das pessoas tem esse tipo de vida? Por quê? (A critério do aluno)

GABARITO
01. C; 02. A; 03. A; 04. C; 05. A; 06. B; 07. D; 08. B; 09. A; 10. A; 11. A; 12. A.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ESTUDO DO TEXTO

(Compreensão e Interpretação)

Leia o texto a seguir.
Antes que elas cresçam

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. [...]
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.
Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal ou escola experimental?
Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. [...]
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
 [...] Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando à emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.
Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo  com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio  dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha  terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.
Affonso Romano de Sant'Anna. Melhores crônicas de Affonso Romano de Sant’anna. São Paulo: Global, 2003. (Fragmento).


Habilidade- Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto.
01. No trecho “[...] mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.” A palavra em destaque pode ser substituída por
(A) desprenderem.
(B) vieram.
(C) provirem.
(D) ecoarem.


Habilidade- Localizar informações explícitas em um texto.
02. De acordo com o texto, as crianças crescem e os pais ficam
(A) órfãos dos filhos.
(B) com saudades dos pestinhas.
(C) sofrendo sua falta.
(D) vendo sua separação.

Habilidade- Identificar o tema de um texto.
03. A ideia central do texto é
(A) o crescimento dos filhos.
(B) o saudosismo dos pais.
(C) a orfandade dos filhos.
(D) a separação dos pais.

Habilidade- Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto.
04. O crescimento dos filhos afeta a vida dos pais porque
(A) sentem-se abandonados com a independência deles.
(B) não dependem mais deles e seguem suas vidas.
(C) ficam surpresos com as mudanças que aparecem repentinamente.
(D) sentem-se até mesmo a ausência das brigas.

Habilidade- Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.
05. No texto, a expressão “reeditar nosso afeto” significa
(A) rever a importância que se dá ao afeto.
(B) sentir a ausência que ele nos faz.
(C) despertar no outro a sensação do afeto.
(D) refletir como ele se dá.

Habilidade- Inferir uma informação implícita em um texto.
06. De acordo com o texto, de repente os filhos estão na adolescência e adotam o “emblema da geração”, a expressão em negrito significa
(A) hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas.
(B) o uniforme de sua geração.
(C) está quente, a gente diz.
(D) suéter amarrada na cintura.

Habilidade- Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto.
07. Segundo Affonso Romano. de Sant'Anna, por que acompanhar os pais passa a ser um esforço, um sofrimento aos filhos?
(A) Porque não dá para deixar a turma da praia e os namorados.
(B) Porque chegam a certa idade, ou seja, ficam mais velhos.
(C) Porque se divorciam dos pais.
(D) Porque exilam os pais.

Habilidade- Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.
08. A finalidade desse texto é
(A) mostrar o remorso dos pais, por não terem desfrutado melhor, os momentos em que tiveram tão próximos dos filhos.
(B) mostrar que os filhos não vivem para sempre.
(C) mostrar que os filhos crescem num ritual de obediência orgânica e desobediência civil.
(D) mostrar que o crescimento dos filhos deixam seus pais órfãos.

Habilidade- Identificar a tese de um texto.
09. Sobre o texto, é correto afirmar que
(A) o relacionamento entre pais e filhos se dá de forma recíproca.
(B) os pais sempre estiveram presentes durante a formação dos filhos.
(C) os pais se reprimem por não ter tido mais tempo de cuidar da prole.
(D) Depois que os filhos crescem, os pais continuam obrigados a cuidá-los enquanto eles cresciam.

Habilidade- Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.
10. O trecho que expressa uma opinião é
(A) [...] os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
(B) [...] as crianças crescem.
(C) [...] elas crescem sem pedir licença.
(D) [...] é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

Habilidade- Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.
11. Considerando o assunto abordado na crônica, o uso do pronome você é dirigido a que interlocutor
(A) ao adolescente.
(B) a qualquer tipo de leitor.
(C) aos pais dos adolescentes.
(D) ao próprio cronista.


GABARITO
01. A; 02. A; 03. B; 04. A; 05. A; 06. D; 07. A; 08. A; 09. C; 10. D; 11. C.